CATÁLOGO DE LIVROS!!!

sábado, 6 de junho de 2009

Antropologia e Educação


















O filme Cidade dos Homens, cujo roteiro de Elena Soárez, baseado em suas estória e nas de Paulo Morelli expõe um conflito muito bem representado das favelas cariocas: No filme, o morro é lugar de embate e de impasses “remediados” pela arte da malandragem e pelo instinto de sobrevivência; ou pela bala fria em riste que não escolhe a quem vitimar; ou pelo amor quente e urgente daqueles aos quais os seus pensamentos, razões conscientes ou instintivas os levam a viver uma existências de brevidades.


Abordaremos aqui essas relações sob o ponto de vista do ensino aprendizagem formal e informal, considerando valores e opiniões que saltaram da tela.


Da fusão: espontânea entre cultura de massa e cultura regional. Do capitalismo ultra-selvagem ou vampiresco elevado ao paroxismo nas relações vorazes de comércio das bocas de fumo. Do conformismo cotidiano dos assalariados fieis aos “seus” valores tradicionais, ao contraste arquitetônico entre os “morros curvilíneos” e os “prédios quadrados” – o primeiro a reapresentação pictórica de uma inconstância; o segundo, da rigidez do conservadorismo. Nasce então uma dialética cuja síntese é a bala do fuzil ou uma nova forma de negar falsas verdades através de uma sobrevivência alternativa que desde a década de oitenta vem definindo?


O filme começa em um cenário muito simbólico: A escola. Aula de história do Brasil apresentada em slides sob os olhares dispersos dos alunos e da aparente falta de estímulo da professora que tenta explicar na medida do impossível algo que ela mesma não acredita.


A cena antológica e muito “falante” satiriza a História do Brasil registrada no livro didático em suas quimeras curriculares e é apresentada de forma mitificada e quixotesca, altamente tendenciosa, relatada em um heroísmo romântico (porque buscava um fim justo, belo esteticamente e épico) sendo assimilada aleatoriamente pelos estudantes, segundo seu repertório mental, cultural e vocabular cujo resultado é uma interpretação de símbolos, imagens e palavras de forma debochada e caótica.


Essa cena representa para mim, uma hipérbole da incompreensão geral a que passamos em matéria de dissociação entre o Brasil imaginário (Pátria Amada, Idolatrada, Salve! Salve!), tradicional, frio e mentiroso embutido nas lingüiças didáticas e o Brasil da realidade, feito de carne e osso, suor e sangue, depreciado por ser miscigenado e, por isso mesmo, deixado ao ocaso porque a "ciência" não consegue sufocá-lo no tubo de ensaio da frieza metodológica da classe que domina para depois expô-lo em estatísticas descontextualizadas e autopromocionais. A favela brasileira é um mundo complexo demais para se gastar em pesquisa.


Da escola em questão, o que esse currículo obriga a dizer através dos percalços didáticos inerentes á mentira nessa aula de história, não é o que se quer ouvir e assimilar porque nada se fundamenta como justificativa da realidade histórica, pois o fato é inerente à verdade, sendo essa realidade relativa.

As justificativas para as atitudes dos "sujeitos" históricos representadas na “estória" do Brasil passada, não correspondem às justificativas dos sujeitos históricos da atualidade: bandidos, malandros, policiais e cidadãos.


O filme todo é um debate cênico acerca da importância da escola e da educação, ambas formais e informais, num âmbito muito pragmático, das relações sociais e culturais na favela, seu “inconsciente coletivo” (uma ideologia sob medida para a opinião publica do morro, fabricada pela Indústria Cultural), suas necessidades e problemas urgentes em detrimento do que a escola e a educação formal poderão oferecer.

Dos Prédios: de modo geral o filme me falou da radical inversão de valores a qual levou o capitalismo selvagem, enquanto longe da práxis, à realidade em que moradores endinheirados, por causa disso, obtusos, sobrevivem aprisionadas em suas casas-penitenciarias onde estarão protegidos sob auto-encarceramento infligido cuja racionalização as leva a crer em conforto e status para a manutenção de um padrão de vida. Eis o que se pode observar também desde a década de oitenta, do surgimento de um novo juízo de valor capitalista tipicamente pós-moderno e tupiniquim, ensejado pela alta tecnologia em segurança doméstica cara e ostensiva.

Talvez se dê à mesma coisa, mas sob outra roupagem, vista também dos “caras” das gangues, das chefias do tráfico, que possuem também suas TVs, fazem também suas ligações, assistem seus filmes por assinatura, vestem sua roupa de marca e igualmente interagem das suas penitenciárias-casas com o mundo lá fora vivendo sua vida social e seus interesses, que podem ser os mesmo, salvo que nem todos desses dois grupos se utilizam do mesmo modus operandi para se obter capital.

Se há bandidos nesses dois grupos,como é natural em todas as classes, assim há também tamanha relação entre o juízo de valor do bandido iletrado para com o juízo de valor do bandido letrado, isso pode se relacionar, por se enquadrarem na classe média! Ambos estão presos por necessidade, deles próprios em relação ao Estado ou vice e versa. Assim, observe que, ambos almejam as mesmas mordomias; por valorizarem os mesmos padrões de vida e de status, ambos estão subtraindo algo de alguém; ambos, por subtraírem, são subtraídos de suas liberdades, ora ofuscadas pela libertinagem do ato de possuir.


Se o juízo de valor é o mesmo para ambos os grupos, no entanto, eles vivem outra realidade, isso dentro da lógica do ensino-aprendizagem formal, pois procedem de mundos diferentes: o bandido da classe alta, que conseguiu manter seu padrão de vida certamente estudou e o bandido da classe baixa que conseguiu sucesso em suas empreitadas geralmente não conseguiu terminar o Ensino Médio. Mas não é regra geral. A regra geral é que os valores de posse e consumo como auto-afirmação do ego através do hedonismo e do bem estar urbano são frutos de uma indústria capitalista envenenada de uma categoria ideológica pós-moderna quanto à gestualidade e onde todos podem ser o que e como quiserem ser em quantidade e em “qualidade”, segundo as representações imagéticas das propagandas de marketing no dia a dia, que associam o ideal do American ways of life rococó e a beleza européia clichê à posse de bens materiais.

Da Favela: em meios aos transeuntes, a arquitetura da assimetria das ruas e das casas, um grupo de garotos,ou uma dupla deles, guiados pelo instinto e pelo smell like the spirit de toda adolescência vão se realizado segundo suas pequenas e constantes descobertas. Mas. há um ambiente: o mundo da criminalidade, com sua afirmação machista como alternativa de crescimento social inerente ao modelo de mundo, isto é, submundo... Desta fonte surgem novos valores e metas que se reciclam, se perfazem e se reinventam a partir de alguns parâmetros, a saber, a mítica popular do banditismo, o funk carioca, a cinematografia violenta hollywoodiana, o vídeo game e o universo cultural do hip-hop gangster, da representação cênica de fumar maconha assim como foi chique a representação cênica de fumar cigarro na década de trinta, também a “lombra” como subterfúgio inconsciente de inconformista que no fundo no fundo quer voltar aos velhos ideais cristãos agora pedidos- exceto para os crentes pentecostais do morro.

Em seu cotidiano, eles intuem que os valores tidos como clássicos se desumanizaram, assim como o tal exemplo feérico e intangível da aula de História do Brasil. A moral, desta forma foi desmoralizada e que os últimos fundamentos de uma sociedade sã caíram num buraco sem fundo. Observe um principio fundamental da idéia do filme Cidade dos Homens: aula de história é uma analogia aos valores plásticos e sem calor humano que hoje permeia nossa sociedade televisiva; ao contrário do baile funk, por exemplo...

Do Filme: um círculo infinito? Ora, da realidade para a ficção, as violências da favela , quando midiatizada são inconscientemente mimetizadas, comparadas,, associadas e, por fim absorvidas como representações das violências dos filmes, jogos, músicas, ora “inofensivas”. Isso acontece porque, quanto mais hiper-reais forem essas representações artísticas das violências reais, maior será “playstationizadas” na vida real. Dessa forma, todas as violências ficcionais ou reais, passam a ter um caráter de entretenimento, quando comparadas entre si, através da repetição, perca de senso-crítico e empatia com o outro, isso se dá primeiramente, por sua banalização no convívio direto com elas enquanto ainda não midiatizadas daí surge um primeiro choque diante essas barbáries, mas para o sujeito não crítico, não é mais a escola, Deus ou a bíblia, por exemplo, que explicam as violências ao seu redor, mas agora o videogame.

A mídia apenas diz:
- Tá vendo aí malandro, que aquele cara de carne osso que você viu logo ali caído era de verdade...
O malandro diz:
- Só acreditei porque vi na T.V.

Obs: se minhas opiniões evidenciaram uma ideia chauvinista é impressão sua...

fotos tiradas de: www.cidadedoshomens.com.br/